Achei o texto magnífico. Repasso pois vale a pena.
Já se vão 3 anos desde a minha estréia como mãe (de um humano pelo menos). Na verdade, não desconto os dois meninos que tive, mesmo que por 2 meses apenas, mas que já eram tão amados e queridos. Foi um amor tão grande... eu realmente não me recuperei até a Bella "aparecer". Fico imaginando se Deus não me tivesse dado este presente... Bella é a melhor coisa que aconteceu na minha vida.
A verdade é que os nossos filhos não são nossos, são do mundo. Agora, vai entender o que isso realmente significa. Pior ainda, vai criá-los para isso. Afff... haja coração e cabeça. Para nós, mães, ele serão sempre pequeninos, frágeis, e a nossa primeira reação sempre será de afago, de ajuda, afinal, qual a mãe que não faz isso? Ser mãe é um aprendizado constante. Bom, muito bom, mas às vezes dói fundo na alma.
[Por Márcia Neder Bacha
A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo. Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Até agora. Agora, quando minha filha de quase 18 anos começa a dar voos-solo.
Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária. Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser 'desnecessária' é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filha(o). Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.
Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser 'desnecessários', nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.
Marcia Neder Bacha - Doutora em Psicologia Clínica (Psicanálise) pela PUC-SP; Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-RJ; Psicóloga pela Universidade Santa Úrsula; professora do Programa de Estudos Pós-Graduados em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), onde coordena a linha de pesquisa Psicanálise e Cultura. É autora do livro Psicanálise e Educação. Laços Refeitos (SP: Casa do Psicólogo, CG: Ed. UFMS, 1998), e de artigos publicados em revistas especializadas.
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