No dia 03 de março de 2006 eu fui dormir. No dia seguinte, no dia 04 de março de 2006 eu já não era a mesma pessoa. Eu literalmente nasci de novo.
Na madrugada do dia 04 de março de 2006 eu sofri um derrame isquêmico paradoxal. Mas isso eu não sabia. Ninguém sabia. Acordei, virei para o lado para conversar com o meu marido, tentei pronunciar algo mas as palavras não saíram.
Passei o sábado e o domingo em estado de graça … e sono. Para mim tudo estava ótimo, tudo estava maravilhoso, e o sono ia muito bem obrigada, mais do que o normal. O único detalhe é que eu não sentia fome, eu não sentia sede. Se não houvesse o meu marido por perto, eu provavelmente nem tomaria banho. No almoço de Domingo com a família, meus pais perceberam que havia algo muito estranho comigo. Mesmo assim, não foi o suficiente para irmos ao hospital verificar.
Na segunda-feira, dia 06 de março de 2006 não fui trabalhar. Meu marido ficou de babá o dia todo. E neste dia ele se convenceu que algo muito ruim havia acontecido. O quê? Não fazia a mínima idéia, mas fomos ao hospital verificar.
Bastou eu ir para a consulta preliminar que algo chamou a atenção da enfermeira. Um alerta foi dado para a Neurologista e em poucas horas eu já havia sido internada. Estava « bookada » para vários exames que começaram a ser feitos naquela madrugada mesmo. Finalmente descobrimos o problema : eu havia sido vítima de um AVC - Acidente Vascular Cerebral.
Quais eram os meus sintomas? Devido a região onde o AVC aconteceu a minha (1) memória a curto prazo foi afetada. Eu não conseguia (2) focar a tela do computador, não conseguia (3) digitar, muito menos (4) escrever. (5) Dirigir um carro estava fora de cogitação. A minha (6) fala era lenta e o acesso a vocabulário que antes era extenso passou a ser extremamente fraco pela falta de memória.
Num dos últimos exames que o meu Neurologista solicitou, descobrimos que tenho um problema cromossômico (MTHFR heterozigótico) que propiciou o derrame. Para evitar novos derrames tomo 300mg de Ácido Acetilsalicílico (Aspirina) diariamente.
Eu voltei a trabalhar 4 meses após o derrame. Se eu estava recuperada? Não. Mas foi um dos melhores passos que eu pude dar para recuperar as funções cerebrais perdidas. Não há nada melhor do que trabalhar numa entidade governamental onde não se corre o risco de perder o emprego (LOL!!!). Mas a grande verdade é que o meu trabalho contribuiu e muito para a minha recuperação. Se é uma recuperação total eu não sei (muitos dizem que sim) mas estou feliz com o que sou hoje, pouco mais de 5 anos depois.
Se eu tive vontade de desistir? E como! As pessoas não são obrigadas a saber ou conhecer o seu problema, mas elas deveriam pelo menos nos respeitar como pessoa. Fui muito desrespeitada como mulher e como profissional, afinal, os meus erros não eram produto do meu querer. Passei por poucas e boas, mas isso só serviu para me fortalecer. O que não mata, fortalece.
A mensagem que eu tenho para deixar é que fatores de risco para o AVC ainda são:
· Idade avançada
· Hipertensão (pressão alta)
· Histórico de AVC’s ou Isquemia transitória na família
· Diabetes
· Colesterol alto
· Consumo de cigarros
· Fibrilação atrial
Note : Tinha 33 anos quando tive o derrame, não fumo, não bebo, não tomo remédios, não tenho problemas com pressão ou colesterol altos. Não tenho problemas cardíacos.
Nunca pense pouco sobre qualquer sintoma estranho que você, um familiar ou um amigo possa estar sentindo, principalmente se já houverem casos na família. Por via das dúvidas, vá a um hospital e faça um check-up. É rápido e indolor.