14 April 2011

STRANGER DANGER - O PERIGO DAS NOSSAS CRIANÇAS COM ESTRANHOS

O perigo de estranhos
Por Claire Marketos - www.inspiredparenting.co.za
Tradução e adaptação Ana Saraiva


Você lembra do caso sobre a menininha Madeleine McCann, que simplesmente sumiu enquanto em férias com os pais há mais de dois anos? Este é um dos casos mais recentes e de grande notoriedade dos últimos tempos, mas é fácil verificar que este acontecimento está ficando cada vez mais frequente. Nossas crianças estão cada vez mais inseguras nesta sociedade doente.


Como pais, é óbvio que nos tornamos extremamente vigilantes, tentamos proteger nossos filhos tanto fora como dentro de casa. Mesmo assim, pecamos por enviar mensagens confusas quando estamos em público. É normal uma criança se sentir envergonhada e afastar-se de estranhos, não querendo sequer dirigir-lhes a palavra. Alguns pais sentem-se super desconfortáveis com a situação, por medo de que isso reflita a sua "falta de prática" e "experiência" como pais.


É claro que desejamos que nossos filhos sejam bem educados, então encorajamos um contato, mesmo que seja apenas um "oi" e um sorriso para um estranho amigável. Infelizmente, na busca em nos tornarmos bons pais podemos tornar nossos filhos presas fáceis, vulnerávies para estes predadores. Peça desculpas para o seu filho, mas se uma situação destas o deixa desconfortável, lembre-se que afastar a sua criança de ocasiões como esta é o seu primeiro passo no quesito proteção.
Lembre-se: a intuição dos pequeninos, ou até mesmo uma "voz interna", é a melhor ferramenta para a sua proteção. Ao darmos permissão para os nossos filhos receonhecerem e fazerem uso dos seus instintos é o melhor presente que você pode dar para ele nesta vida. Crianças nunca devem se sentir oprimidas, forçadas a comprometer-se, seja qual for a situação.

O simples fato de uma criança saber que, de onde estiver, usar um celular, ligar a cobrar no seu celular ou em casa ou para a casa da vovó, no momento em que ela se sente desconfortável por alguma situação adversa, e que você pode tomar uma atitude imediata, isso sim dá um força maior para que qualquer criança de qualquer idade se sinta seguro e não alimente sentimentos negativos contra estranhos.

O "NÃO" é uma palavra que crianças tão novas quanto 2 anos de idade conhecem e sabem o quanto "vale", eles a usam para se defender. Encorage o seu filho a dizer "NÃO" e "PARE" quando eles não gostarem de uma brincadeira que um adulto promove, ou se alguém os toca de uma maneira que eles não se sintam confortáveis.

Dê o poder para a sua filha ou filho resistir a tentação, atuando em diferentes cenários com ele onde você oferecerá todos os tipos de prêmios, tudo para fazê-lo se distanciar da sua família e amigos, como oferecer filhotinhos, brinquedos high tech, doces e chocolates. Ensine-o a não se comprometer seja com qual oferta seja, e com um adulto que ela não conhece muito bem.

Dê enfase á mportância dela contactá-la antes de ir para casa com alguém da escola. Isso não leva mais de um minuto para um professor ou a sua própria filha (ou filho) ligar para você. Crianças, quando num ambiente seguro como a escola, podem agir sem pensar. Por isso é importante você fazer essas encenações e prever a sua ação.

O amor e a atenção de mãe e pai protege os filhos de procurá-los em outras pessoas; pesquisas já comprovaram que meninas que têm um relacionamento aberto e muito forte com os seus pais, não procurarão ter atenção de outros homens. Crianças precisam se sentir conectadas. Uma criança que se sente sozinha, com certeza aceitará os elogios de um outro adulto, sem que levem em consideração os perigos que este tipo de "sedução" acarreta. Uma criança que se mostra muito "extrovertida" e que "conversar com todo mundo" pode, na verdade não estar conversando com os seus pais. Precisamos ouvir nossas crianças e saber o que elas precisam, e como nós podemos suprir as suas necessidades para que não procurem um ombro amigo em estranhos.

Dando poder e amando muito os seus filhos é a melhor maneira de protegê-los quando você não está por perto, como também confiar nos seus próprios instintos e na sua intuição.

Gavin de Becker diz no seu livro "Protecting the gift: keeping children and teenagers safe": "A sabedoria das espécies" se você não está confortável com a situação (e sente isso na sua barriga) não é uma boa para o seu filho.

12 April 2011

SAIBA IDENTIFICAR E COMBATER O BULLYING NAS ESCOLAS


Ele não deve se visto como brincadeira e pode trazer consequências mais sérias

"Na sala de aula, jogavam bolinha de papel na minha cabeça, não me deixavam participar de nenhum grupo, me imitavam, pois eu gaguejava quando criança. Era sempre um grupo de meninos que fazia isso. A cena que me magoa até hoje lembrar foi quando dois meninos acharam um pedaço de fio de cobre atrás da escola e me bateram com ele", o depoimento é de Lídia Eliane Canuto de Souza, 30 anos, residente de Ribeirão Pires, interior de São Paulo.

O que aconteceu no passado com ela e que permanece no cotidiano de diversas crianças e adolescentes em escolas do mundo todo é a prática denominada "Bullying". O termo de origem inglesa é, por definição, qualquer tipo de comportamento agressivo praticado intencionalmente por uma pessoa ou grupo de forma repetida contra alguém, sem motivação específica ou justificável, causando danos psicológicos, dor emocional e física (se a agressão envolver contato físico). 

Segundo a ONG "Learn Without Fear" (Aprender Sem Medo), 350 milhões de crianças e jovens são vítimas de bullying anualmente em todo o mundo. O pediatra e um dos autores do livro "Diga não para o Bullying", Aramis Lopes Neto, aponta que atitudes violentas dentro da escola geram muita preocupação, pois interferem na formação do indivíduo e deixam sequelas, principalmente para as vítimas. No caso de Lídia, ela diz que o bullying contribuiu para diminuir sua autoestima e fazer com que tenha dificuldade em confiar nas pessoas e de se relacionar.

O bullying não pode ser encarado como uma brincadeira ou provocação natural entre crianças e adolescentes e merece atenção para ser prevenido e combatido. Conheça agora esse fenômeno social, suas causas, consequências e quais são as medidas necessárias para diminuir a incidência desse tipo de comportamento.

As vítimas apresentam sinais de depressão, ansiedade e baixo rendimento escolar

Tipos de bullying

Há várias formas de manifestar o bullying. A prática pode ocorrer da forma direta, quando a agressão é feita contra o seu alvo por meio de apelidos, exclusão do grupo, agressão moral ou física. O bullying pode ser também indireto, envolvendo furtos, fofocas e até mesmo, o cyberbullying, aquele que usa a internet, celular e outros meios do mundo digital para divulgar as ofensas - sites caluniando as vítimas, vídeos disseminados com situações embaraçosas e fofocas circulam pela rede numa velocidade impressionante. Segundo uma pesquisa recente feita pela Universidade de Valência, na Espanha, entre 25 % e 29 % dos adolescentes sofrem bullying via telefone celular ou internet.

Além disso, as provocações podem começar presencialmente e evoluir para o ambiente virtual, como conta a professora do Ensino Fundamental da Rede Municipal do Rio de Janeiro, Cristiane Mesquita. "Uma aluna nossa recebia ameaças e xingamentos, que eram divulgados na porta do banheiro da escola. Depois, isso se repetiu numa rede social na internet. A mãe, completamente assustada, foi à escola e nós a orientamos a procurar a justiça. A direção convocou o responsável pela agressora, que pediu desculpas à garota. Só então a mãe desistiu de denunciar", relembra.

Em geral, o modo de manifestar o bullying varia entre os meninos e as meninas. Entre eles, ocorrem mais agressões físicas e exclusões do grupo, na hora de jogar bola ou no recreio, por exemplo. Enquanto entre elas, a prática envolve fofocas, difamações e dominação, sem no entanto, excluí-las do grupo.

Consequências duradouras

Os estragos das agressões ilimitadas são visíveis tanto na vida pessoal dos agredidos como na escolar. De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, publicado pela American Psychological Association, a vítima típica de bullying sofre de depressão e ansiedade com maior frequência.

Dentre as vítimas é comum a ocorrência de baixa autoestima, pensamentos suicidas e dificuldade de se relacionar amorosamente e profissionalmente. Já os agressores, levam a agressividade para a idade adulta em casa e/ou no trabalho, não conseguem estabelecer relações longas e nem regularidade no trabalho.

O lema "passou de ano está bom" só serve para pais omissos. Os pais devem estar atentos se o seu filho tem amigos, se conhece pessoas que sofrem alguma agressão ou se ele mesmo é intimidado na escolaCarlos Eduardo de Camargos, 30 anos, morador de Ceilândia no Distrito Federal, amarga até hoje as consequências de ter sido uma vítima de bullying. Por causa disso, ele adquiriu fobia social, depressão, temperamento explosivo e distimia. "Ainda tenho dificuldades em confiar nas pessoas, falta de coragem de encará-las e medo de enfrentar os erros", diz Carlos.

Reconheça um agressor

Os agressores costumam ser figuras populares na escola, são agressivos com os colegas, professores, pais e, normalmente, trazem consigo um grupo de seguidores. "Eles precisam dessas pessoas que os apóiam e se submetem a eles e, dessa forma, a responsabilidade pela agressão é dividida", ressalta Aramis Neto.

Ao contrário dos agressores, as vítimas, geralmente, têm (ou desenvolvem) baixa autoestima, se isolam do grupo e têm poucos amigos. As vítimas também apresentam algumas características físicas que as tornam alvos, como por exemplo: magreza, excesso de peso, timidez, ou outra característica acentuada. "Além disso, as vítimas apresentam sinais de depressão, ansiedade e baixo rendimento escolar", explica o pediatra.

O especialista acrescenta que, em casa, eles se isolam no quarto, demonstram irritabilidade com os pais, pois não se sentem apoiados, choram com frequência e, geralmente, inventam desculpas para faltar aulas e não ficar no ambiente em que estão sofrendo.

Vítima ou agressora?

Algumas características sinalizam se alguém pode ser um provável alvo de bullying. É importante observar as crianças muito infantilizadas ou muito protegidas, que não conseguem se impor ou serem ouvidas dentro do grupo, ou aquelas que ouvem frequentemente frases desestimulantes no ambiente familiar como "você só me traz problemas", adverte o Aramis.

Já os agressores vieram de uma família que usa a violência como forma de autoridade, com pais ou mães que não expressam amor ou afeto pelos filhos ou que cresceram em lares em que todos os comportamentos eram aceitos. "Eles não sabem ouvir, principalmente, a palavra não", avisa o especialista.

Como tratar as sequelas

Tanto as vítimas como os agressores de bullying precisam de ajuda psicológica. De acordo com a psicóloga Rita Romaro, o primeiro passo é conseguir identificar o que está acontecendo e qual foi a gravidade da ofensa ou agressão.

Para as pessoas que sofrem o bullying, a psicóloga recomenda até a mudança de escola, quando o caso é muito grave, além da terapia. "Mesmo que o bullying pare, a criança continua sendo discriminada na escola. Para ela não adquirir aversão ao ambiente escolar, o melhor mesmo é a mudança", ressalta Rita.

Para crianças menores, a terapia pode ser na forma de "ludoterapia", que envolve brinquedos e conversa. Esse trabalho é eficaz, melhora a autoestima da vítima e a criança aprende a lidar melhor com suas emoções.

Já no caso dos agressores, o mais importante é identificar o que está por trás da agressão: se ele sente prazer na dor do outro ou se ele apenas repete o que ele vivencia ou vê em sua própria casa. É possível que os praticantes de bullying tenham um possível transtorno de conduta e que, mesmo com a terapia, não tenham resultados tão bons quanto os das vítimas. "A importância desse método, nesse caso, é que a família pode ser ajudada e pode aprender como lidar com essa criança", explica a especialista. Ela recomenda terapia familiar em alguns casos.

A criança que apresenta algum transtorno de conduta costuma fazer o outro sofrer e sente prazer nisso, mentir e inventar histórias, não respeita autoridades, gosta de colocar fogo em objetos, se meter em brigas e machucar animais, entre outras ações.

A psicóloga Rita Romaro explica que o mais importante é saber qual é a extensão do bullying que a criança pratica e identificar se ela realmente tem o transtorno para poder alertar a família sobre como lidar e não se deixar manipular pela criança.

Qual a função da escola e da família no combate ao bullying?

A escola deve adequar o ambiente escolar para reduzir o bullying e valorizar a diversidade. Medidas para esclarecer o que é o bullying também devem ser realizadas. E é fundamental que a escola aja como um facilitador entre pais e alunos para encaminhar, orienta e resolver a questão. Um dos fatores que agrava ainda mais o problema é a omissão de professores e dos profissionais do ambiente estudantil.

A professora do Rio de Janeiro, Cristiane Mesquita, conta o que faz para diminuir as agressões em sala de aula: "É essencial que o professor tenha consciência de que o bullying maltrata e baixa a autoestima da criança. Sempre que presencio em minha turma, eu converso seriamente com todos e leio uma lei que criminaliza quem pratica o bullying". 

A lei N.º 5.089, do estado do Rio de Janeiro, obriga os professores e funcionários de escolas públicas e particulares do Rio de Janeiro a denunciarem casos de violência contra crianças e adolescentes, inclusive o bullying, a delegacias e conselhos tutelares. As instituições que não cumprirem a norma podem pagar multas de 3 a 20 salários mínimos.

Para o pediatra Aramis, algumas das principais medidas a serem tomadas nas escolas incluem:

1- Admitir que o bullying existe em todas as escolas.
2- Praticar ações que podem reduzir a incidência das agressões com mobilização de toda a comunidade escolar: professores, coordenadores, pais e alunos.
3- Promover o trabalho de compromisso para a redução do bullying saindo da premissa: "Essa escola não vai mais tolerar o bullying".
4- Cada turma/série construindo sua forma de conviver contra o bullying, admitindo o que é aceitável/o que não é.
5- Trabalhar a amizade, solidariedade, não-violência e amor com atividades em grupo.

O papel da família

Já a família deve valorizar o diálogo. Não se avalia pelo boletim se a criança sofre bullying. O lema "passou de ano está bom" só serve para pais omissos.

Os pais devem estar atentos se o seu filho tem amigos, se conhece pessoas que sofrem alguma agressão ou se ele mesmo é intimidado na escola. A função da família é permitir que o filho exponha seu sofrimento.

Por que a criança tem medo de falar com os pais?

Principalmente porque tem medo de se expor e acha que os pais não vão valorizar os seus sentimentos. "No caso dos agressores, a família deve saber corrigi-los para que eles não continuem com as agressões na escola, mas não pelo medo de serem castigados, e sim, pelo tradicional método do diálogo aberto e da educação familiar, que é indispensável a qualquer indivíduo que vive coletivamente e de forma respeitosa", ressalta a psicóloga Rita Romaro.

O bullying deve ser levado a sério por toda a comunidade escolar e familiar. Aos pais, cabe decidir qual a melhor escola para os seus filhos - muitas vezes, a escola que oferece a melhor educação formal não possui o ambiente mais saudável.